Confirmado: Fevereiro de 2024 foi o mês mais quente já registrado

A agência climática da União Europeia confirma: pelo 9º mês consecutivo, ultrapassamos os recordes globais de calor.

O mais recente recorde nesta onda de calor global alimentada pelas mudanças climáticas inclui temperaturas da superfície do mar que não foram apenas as mais quentes para um mês de fevereiro, mas deixaram para trás qualquer outro mês já registado, ultrapassando o pico anterior, de Agosto de 2023 – e continuando a aumentar no final do mês.

E fevereiro, tal como os dois meses anteriores deste inverno do hemisfério norte, ultrapassou com folga o limite estabelecido por acordos internacionais para o aquecimento a longo prazo, informou a agência.

Tem sido uma sequência previsível, pois o último mês que não estabeleceu um recorde de mês mais quente foi maio de 2023. Segundo os cálculos da agência europeia, fevereiro de 2024 foi 1,77°C mais quente que no final do século XIX.

Mais detalhes na matéria da Associated Press na CBC: Human-caused climate change fuels hottest February on record, all-time high ocean warming, de 6 de março de 2024.

Brasil é o 2º no ranking das populações que acreditam que serão desalojadas pelo clima

No Brasil, 61% da população acredita que, nos próximos 25 anos, precisará se mudar da região onde vive por causa do impacto das mudanças climáticas.

Mapa registra as anomalias de temperatura na superfície do planeta em 2023, com cores indicando variações de -6 a +6 graus celsius

Isso coloca o país em 2º lugar no ranking mundial formado pelos 31 países que participaram do levantamento "Visões Globais Sobre As Mudanças Climáticas" (Global Views On Climate Change), realizado pelo Ipsos, para a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 28), que terminou em dezembro.

Os entrevistados também foram questionados sobre como enxergam o papel das empresas no combate às mudanças climáticas. No Brasil, 42% dos participantes afirmam que as empresas que atuam no país usam pautas ambientais sem realmente se comprometer com uma mudança no clima, e apenas 18% dizem que enxergam ações concretas com base no que as empresas pregam.

“O estudo derruba o mito de que desastres ambientais sejam imprevisíveis a ponto de não poderem ser evitados”

No Brasil, aproximadamente 1.000 pessoas foram ouvidas na pesquisa, e 79% delas afirmaram que já sentem atualmente um efeito severo das mudanças climáticas onde vivem.

A média global é de 38%. A Turquia está em 1º, com 68%, e a Índia em 3º, com 57%. Os países com as menores percepções sobre a possibilidade de deslocamento são Suécia (21%), Holanda (19%) e Alemanha (19%).

A visão sobre o futuro do clima no planeta é pessimista: 85% dos brasileiros entrevistados acham que os impactos das mudanças climáticas no país serão ainda mais intensos nos próximos 10 anos. Este índice só foi superado pelos entrevistados na Coreia do Sul (88%).

Para o geógrafo Lindberg Nascimento Junior, professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o estudo derruba o mito de que desastres ambientais sejam imprevisíveis a ponto de não poderem ser evitados: há chance de se promover mudanças para evitar estragos, e existe aparato tecnológico suficiente para fazer previsões.


(Com informações de Vinicius Leal na Globonews, 21/1/2024.)

Calor no Ártico cancela pesca de caranguejos no Alasca pelo 2º ano consecutivo

A temporada de pesca do caranguejo da neve no Alasca voltou a ser cancelada devido ao aquecimento das águas, que fez população da espécie cair quase 90%

um banco de gelo flutuante derrete, exposto ao sol

Os números por trás dessa decisão são chocantes: a população de caranguejos da neve encolheu de cerca de 8 bilhões em 2018 para 1 bilhão em 2021, de acordo com Benjamin Daly, pesquisador do Departamento de Pesca e Caça do Alasca.

Quando a temporada foi cancelada no ano passado, houve um sentimento de desamparo entre a comunidade de pescadores de caranguejo do Alasca. Agora, no pico de um novo inverno do hemisfério norte, uma sensação de pânico está tomando conta do setor pesqueiro do estado, que produz 60% dos frutos do mar do país.

“Uma onda de calor marinha ligada às alterações climáticas impactou a cadeia alimentar dos caranguejos das neves e os levou-os à fome”.

A crise foi identificada oficialmente no início do inverno setentrional de 2021-2022. "A primeira reação foi: isso é real? Você sabe, nós olhamos para isso e era quase uma linha plana", disse Daly.

De acordo com uma investigação da Administração Oceânica e Atmosférica Federal (NOAA), uma onda de calor marinha ligada às alterações climáticas impactou a cadeia alimentar dos caranguejos das neves e os levou-os à fome.

No inverno atual, uma nova pesquisa mostrou poucos sinais de recuperação. “As condições ambientais estão mudando rapidamente”, disse Daly no inverno anterior. "Temos visto condições quentes no Mar de Bering nos últimos dois anos e estamos vendo uma resposta em uma espécie adaptada ao frio, então é bastante óbvio que isso está relacionado. É um canário em uma mina de carvão para outras espécies que precisam de águas geladas."

Os biólogos esperam que esta segunda rodada de suspensões da pesca dê à população restante de caranguejos da neve tempo para voltar a aumentar. Mas com a ameaça climática que só cresce, existe a preocupação de que os caranguejos das neves, juntamente com a indústria que deles depende, continuem a diminuir.

Para os pescadores, é o segundo ano consecutivo em que a lucrativa temporada dos cobiçados caranguejos é suspensa. “O caranguejo da neve de longe a mais abundante de todas as espécies de caranguejos do Mar de Bering que são capturadas comercialmente. Portanto, vale a pena notar o choque pelo desaparecimento de muitos bilhões – incluindo fêmeas e filhotes”, afirmou Daly.

“Ainda estamos definitivamente em modo de sobrevivência, tentando encontrar uma maneira de permanecer no mercado”, um pescador do ramo disse à CBS News. “Sou um pescador de quarta geração, e gostaria de dizer que isso estará aqui para os meus filhos, mas a realidade é que se continuarmos do jeito que estamos, não sobrará nenhum de nós.”

Ironicamente, a frase dele vale tanto para a sua ocupação, quanto para as espécies que ele no momento lamenta não poder coletar.

Com informações de:

Migração devido ao clima já é mapeada nos EUA

Os fluxos migratórios influenciam profundamente a sociedade e a economia, e os EUA já começaram a mapear em que ponto as pessoas desistem de insistir numa região frequentemente atingida.

Um cachorro passa por uma pilha de itens destruídos que foram removidos de uma casa inundada, enquanto os moradores iniciam o processo de recuperação do furacão Harvey em 31 de agosto de 2017 em Houston, no Texas.

Cidades e regiões já começaram a ser abandonadas devido ao aumento da frequência de desastres climáticos, é o que apontam os estudos sobre a realidade imobiliária dos EUA – que não é idêntica à nossa, mas tem pontos fundamentais em comum.

No caso dos vizinhos do norte, a maior parte dessas regiões fica nas regiões costeiras, em especial na Florida, Texas e na parte central da Costa Leste - onde se concentram os efeitos das tempestades que acompanham a temporada de furacões no Atlântico Norte.

“Área de abandono climático” é uma região onde o risco de inundações cresceu o suficiente para começar a forçar as pessoas a partirem.

Mas o mesmo padrão se repete em outras regiões com situações mais próximas às que observamos também no Brasil: lugares onde chuvas intensas, ciclones tropicais e inundações costeiras e fluviais estão se tornando problemas maiores e mais frequentes.

“As pessoas percebem quais as partes da sua região que devem ser evitadas e quais são mais seguras, e agem de acordo com isso”, afirma Jeremy Porter, demógrafo e líder da investigação sobre implicações climáticas realizada pela First Street Foundation. “Observando os mercados imobiliários, notamos que as pessoas vem sendo muito mais atentas na escolha sobre onde viver.”

A First Street Foundation é um grupo de pesquisa sem fins lucrativos que recentemente desenvolveu ferramentas – das quais precisamos logo ter similares por aqui! – para ajudar os residentes a avaliar os riscos de inundações, incêndios e condições climáticas extremas que as propriedades individuais enfrentam, conforme publicação desta semana na Nature, com participação de pesquisadores de diversas universidades e do Fundo de Defesa Ambiental, também sem fins lucrativos.

As migrações também incluem as mudanças dentro de uma mesma área urbana, abandonando a região mais afetada.

O estudo faz uma importante distinção: quando as pessoas pensam nas migrações causadas pelas mudanças climáticas, imaginam alguém se mudando para longe de casa e para outra parte do país. Mas isso é apenas uma pequena fatia das tendências globais de migração, e a maioria das pessoas se muda dentro da mesma cidade ou área metropolitana, ressalta Porter.

A partir daí, o estudo cruzou dados de risco de inundação com as informações do censo, para mapear a relação entre inundações e mudanças populacionais, controlando outros fatores – como a disponibilidade de emprego – que também podem afetar a decisão de alguém quanto a se mudar.

Foi assim que a pesquisa encontrou pontos de inflexão para cada região: um limite em que as inundações se tornam tão graves que as pessoas começam a deixar a área. Esse ponto de inflexão varia de lugar para lugar, e mostra que as pessoas começaram a se afastar quando cerca de 5% a 15% das propriedades em uma área são colocadas em risco de inundação.

Curiosamente, o mesmo estudo aponta também um fenômeno contrário (e minoritário): regiões que estão em crescimento populacional apesar do seu risco ampliado de inundações.

Veremos o que acontecerá com essas. "A exposição da população nos próximos 30 anos é uma preocupação séria", disse Evelyn Shu, analista sênior de pesquisa da First Street Foundation e principal autora do artigo. "Por décadas, optamos por construir e desenvolver em áreas que acreditávamos não ter risco significativo, mas devido aos impactos das mudanças climáticas, essas áreas estão começando a se parecer muito rapidamente com áreas que evitamos no passado."

Um mês depois do furacão, cidade turística milionária está longe de se recuperar

O furacão Otis passou pela milionária cidade turística de Acapulco, no México, na virada de outubro para novembro – e agora, um mês depois, 600.000 toneladas de lixo permanecem empilhadas pelas ruas, e a ajuda à população atingida ainda não está organizada.

Trabalhadores e uma máquina operam junto ao lixo empilhado pelas ruas de Acapulco
Uma equipe removendo detritos de uma rua de Acapulco.

A matéria do New York Times, datada de 25 de novembro, começa assim: “Abaixo das janelas quebradas dos arranha-céus dos hoteis do centro de Acapulco, as pessoas caminham ao lado de colinas imponentes de sacos de lixo cheios de comida podre e detritos, de colchões a decorações de Natal.”

“Bombeiros voluntários de estados distantes limpam os resíduos, enxotando enxames de baratas de seus braços.”

Moradores, autoridades de saúde pública e socorristas dizem acreditar que todo esse lixo não coletado está conectado às infecções estomacais, diarreia, erupções cutâneas e outras doenças das quais as pessoas se queixam desde a tempestade.

Logo que o furacão Otis se dissipou, as autoridades priorizaram a remoção de escombros e o restabelecimento da energia nas áreas de resorts turísticos, de acordo com autoridades da cidade, líderes empresariais locais e moradores. Alguns hotéis nessa área já reabriram.

Mas o prefeito da cidade estima que 666 mil toneladas de lixo permanecem empilhadas em Acapulco. Em condições normais, segundo as autoridades locais, seriam recolhidas de 700 a 800 toneladas de resíduos todos os dias.

Grupos empresariais locais pediram na semana passada às autoridades federais e estaduais que declarassem emergência sanitária citando "o acúmulo de lixo, material de construção, falta de água potável e a presença de insetos e fauna nociva" – num quadro que inclui restos humanos ainda não recolhidos.

Fonte: New York Times, 25/11/2023 - Cockroaches and Mountains of Trash Plague Acapulco After Hurricane.

Comparação entre discurso ambiental e práticas de lobby de 58% das grandes empresas não bate

A agência United Press divulgou estudo que concluiu que 58% das gigantes corporativas analisadas exercem sua influência política em sentido oposto ao das ações climáticas que divulgam defender.

Ilustração sobrepõe uma mancha verde com torres de energia eólica sobre uma foto de um campo petrolífero

Em linguagem jornalística, a afirmação da agência é de que as “promessas das maiores corporações do mundo para combater a mudança climática frequentemente não se alinham com seus esforços de lobby, com mais da metade das empresas correndo o risco de se envolver em práticas enganosas conhecidas como 'greenwashing do carbono neutro', de acordo com um novo relatório.”

Greenwashing é a prática de divulgar enganosamente ações como sendo “verdes”, ou seja, que contribuiríam com a preservação.

Elaborado pelo centro de pesquisa InfluenceMap, com sede em Londres, o estudo se chama "Net Zero Greenwash: The Gap Between Corporate Commitments and their Policy Engagement", foi divulgado divulgado em 15 de novembro e examinou as atividades de lobby de quase 300 das maiores empresas públicas em todo o mundo, expondo esforços de companhias aéreas, empresas de combustíveis, energia e manufatura em desacordo com seus posicionamentos públicos.

58% das gigantes corporativas não alinharam suas iniciativas de lobby com as políticas climáticas emergentes que dizem praticar.

Os resultados divulgados mostraram que 58% das gigantes corporativas não alinharam suas iniciativas de lobby com as políticas climáticas emergentes, enquanto afirmavam publicamente apoiar totalmente o Acordo Climático de Paris para reduzir o aquecimento global até o próximo século.

Entre as empresas mencionadas estão nomes internacionalmente conhecidos, como FedEx, Chevron, Delta Air Lines, Ryan Air, ExxonMobil e Nippon Steel Corp.

A página do estudo inclui um interessantíssimo diagrama dos posicionamentos públicos e da atuação das empresas pesquisadas, e tocando em cada ponto do gráfico é possível ver a que empresa se refere. Na horizontal, quanto mais ao lado direito do gráfico o ponto estiver, mais as práticas estarão alinhadas à redução do aquecimento global; na vertical, quanto mais para o alto o ponto estiver, mais a empresa usa expressões relacionadas a carbono neutro em suas comunicações.

O estudo, que seguiu a orientação “Integrity Matters”, provida pelo Grupo de Especialistas de Alto Nível das Nações Unidas sobre práticas de lobby, veio a público duas semanas do início da cúpula climática COP28 em Dubai, onde os líderes da União Europeia planejam pressionar a comunidade internacional a adotar novas políticas rígidas para reduzir emissões.

A titular do grupo na ONU declarou: "Está claro que, embora as empresas sejam rápidas em mostrar seus compromissos climáticos, muitas delas não estão alinhando isso ao apoio a políticas governamentais positivas sobre o clima."

Ela também enfatizou que essas grandes empresas estavam minando os compromissos climáticos ao fazer lobby contra as ações climáticas, e complementou dizendo que "seus compromissos net-zero simplesmente não são críveis".

Pegaram a mão invisível mexendo nos ovos

Os produtores de ovos se uniram para inflar preços nos EUA, mas empresas como Kraft Heinz, Kellogg's e Nestlé não gostaram e conseguiram cobrar na justiça a diferença.

Esteiras de uma linha de produção para embalar ovos industrialmente

A figura da mão invisível que move o mercado é expressiva, mas às vezes essa mão tem mais nomes – como, por exemplo, cartel e conluio –, e um dos lados do mercado acaba prejudicado e providencia para que ela não fique tão invisível assim.

Neste caso específico, a sentença saiu nesta semana, e não deu nomes para a mão, mas considerou culpados os produtores e distribuidores de ovos dos EUA, por agir de maneira orquestrada para aumentar preços no mercado interno, usando recursos como reduzir intencionalmente a população de galinhas e ampliar a destinação de ovos ao mercado externo.

Talvez você esteja associando esse movimento às flutuações de preços do agro no ano do início da pandemia, mas não é o caso: o processo das multinacionais de alimentos contra os produtores de ovos na justiça federal dos EUA é sobre práticas num período que iniciou na década de 1990.

No dia 21 de novembro, um júri federal dos EUA reunido em Illinois concordou com elas quanto à existência dos atos, mas considerou que essas empresas foram prejudicadas por elas apenas no período de outubro de 2004 a dezembro de 2008.

Os réus (que incluem as duas maiores empresas produtoras de ovos dos EUA) terão que pagar indenização às empresas de alimentos, mas o valor dessa indenização será decidido em um novo julgamento.

Clima extremo no Brasil: momento de mitigação já ficou para trás

Representante da ONU comenta os 5 tornados em 2 semanas no sul do país: “estamos discutindo a nossa sobrevivência”.

A confirmação pela Defesa Civil, nesta terça-feira, de que houve 5 tornados neste mês de novembro em Santa Catarina, acendeu novos alertas e aponta para todo um novo conjunto de cenários negativos quanto à intensificação dos fenômenos.

Carlo Pereira, CEO no Brasil do Pacto Global da ONU, que estava no estado para um evento, comentou a confirmação da sequência de eventos extremos em curto prazo, e suas implicações:

“A gente tinha um ou outro tornado, mas cinco é uma coisa inédita. Portanto, não estamos mais falando em mitigação à mudanças climáticas ou eventos extremos, eles já estão acontecendo. O que estamos discutindo é a nossa sobrevivência e adaptação em meio à eles”, ressaltou o representante da ONU, em declaração à imprensa local, durante o evento.

Lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global convida as organizações a alinharem suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Meio Ambiente, Anticorrupção, Trabalho e Direitos Humanos, e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.

Em SC, seis tornados em duas semanas

O primeiro tornado confirmado pela Defesa Civil no período ocorreu no dia 6 de novembro, em Cunha Porã (Região Oeste), o segundo no dia 11 de novembro em Tubarão, no Litoral Sul, o terceiro ocorreu no dia 16 em Itá (Meio-Oeste) e o quarto, no dia 18, pela manhã, em Urupema no Planalto Sul.

O quinto tornado do estado foi registrado na madrugada de sábado, no Sul catarinense, causando danos significativos em Balneário Gaivota e Sombrio. O fenômeno foi resultado de um forte temporal associado à formação de uma frente fria e um sistema de baixa pressão no Paraguai, combinados com calor e umidade da região amazônica.

Imagens do radar meteorológico e análises de danos confirmaram a presença e trajetória dos fenômenos.

Com informações da matéria “Com 5 tornados em menos de 1 mês, CEO da ONU Brasil diz que cenário pode piorar em SC”, de ANA SCHOELLER, em 21 /11/2023.

Vídeo: Enxurrada leva até o asfalto da rua

Cena impactante, com as águas da enchente relâmpago levando SUVs e pessoas, e também erguendo e quebrando grandes placas do asfalto da via.

O vídeo mostra o asfalto da rua sendo erguido em grandes placas e quebrado, pessoas escapando dos carros e se agarrando na infraestrutura urbana, e pessoas sendo arrastadas junto a carros.

Filmado neste sábado, 18 de novembro, a partir de uma varanda em Santo Domingo, na República Dominicana, o vídeo é apenas uma faceta das chuvas torrenciais que causaram grande destruição e a perda de pelo menos 21 vidas neste final de semana, incluindo 9 que estavam dentro de seus carros quando a parede da entrada de um túnel desabou sobre eles, segundo a cobertura preliminar da agência Reuters.

#TudoNormal

(via @exador23 - tks!)

Domo de Calor, o fenômeno por trás dos novos recordes de temperatura

O aprisionamento de massas de ar quente, bem-vindo no inverno, impede a chegada de frentes frias e faz os termômetros subirem drasticamente.

Diagrama do efeito domo, com setas sobre um mapa indicando a subida do ar quente e a sua nova descida, comprimido pela alta pressão atmosférica e gerando mais calor.

A matéria da BBC, indicada pela @gattaraS2, traz a explicação detalhada desse sistema atmosférico que estaciona e impede a chegada de outros fenômenos meteorológicos.

"É como se fosse uma grande bolha de ar quente", compara a especialista Marina Hirota, professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina: essa massa de ar circula de forma vertical, de cima para baixo.

Para completar, o ar quente não consegue se dissipar porque existe uma alta pressão atmosférica que empurra essa massa calorosa para baixo, em direção à superfície terrestre. Conforme desce, essa massa de ar quente passa por um processo de compressão, o que gera ainda mais calor, em um ciclo que pode se repetir ao longo de vários dias.

Essa região de alta pressão atmosférica funciona praticamente como a tampa de uma panela. Ela retém o calor dentro de um espaço definido — no caso do domo atual, é uma área grande e que abrange vários Estados brasileiros.

E como a massa de ar quente impede a chegada de nuvens mais densas, outro efeito dela é ampliar a incidência de raios solares. Isso, num cenário de primavera e verão (quando há mais radiação solar), deixa tudo mais quente e seco.

Hirota destaca que esse tipo de configuração de massas de ar costuma acontecer naturalmente no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil durante o período de inverno – "Só que não há um aumento da temperatura, porque há menos radiação solar nesse período", lembra ela.

O domo de calor perde força quando há alguma mudança nessa configuração meteorológica, que consegue romper aquela alta pressão atmosférica. Com isso, a bolha de ar quente consegue se dissipar — e há um alívio na temperatura.

O geógrafo Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca que a atual onda de calor foi influenciada e amplificada por fatores como as mudanças climáticas e o El Niño forte, que contribui pois dificulta a entrada da temporada de chuvas na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiros.

"E isso se combina com o desmatamento, queimadas, o uso e a ocupação inadequada do solo, para criar as condições ideais para períodos secos e com ondas de calor, pois favorece que a estiagem e as altas temperaturas prevaleçam, ao inibir as chuvas e diminuir a cobertura de nuvens", observa ele.

Segundo as projeções mencionadas por Aquino, "teremos mais áreas de alta pressão, que geram menos chuvas e mais ondas de calor", e o regime de chuvas no país pode passar por uma alteração importante: a redução do corredor que liga a Amazônia ao Sudeste e leva umidade para essa região, especialmente entre os meses de primavera e verão.

Os especialistas observam uma mudança gradual desse eixo, em que as chuvas se deslocam mais para a Região Sul — que atualmente já é castigada por temporais e inundações que fogem dos padrões históricos.

Via “O que é o 'domo de calor', fenômeno por trás dos recordes de temperatura no Brasil”, por Andre Biernath, na BBC Brasil, 16/11/2023.