Domo de Calor, o fenômeno por trás dos novos recordes de temperatura

O aprisionamento de massas de ar quente, bem-vindo no inverno, impede a chegada de frentes frias e faz os termômetros subirem drasticamente.

Diagrama do efeito domo, com setas sobre um mapa indicando a subida do ar quente e a sua nova descida, comprimido pela alta pressão atmosférica e gerando mais calor.

A matéria da BBC, indicada pela @gattaraS2, traz a explicação detalhada desse sistema atmosférico que estaciona e impede a chegada de outros fenômenos meteorológicos.

"É como se fosse uma grande bolha de ar quente", compara a especialista Marina Hirota, professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina: essa massa de ar circula de forma vertical, de cima para baixo.

Para completar, o ar quente não consegue se dissipar porque existe uma alta pressão atmosférica que empurra essa massa calorosa para baixo, em direção à superfície terrestre. Conforme desce, essa massa de ar quente passa por um processo de compressão, o que gera ainda mais calor, em um ciclo que pode se repetir ao longo de vários dias.

Essa região de alta pressão atmosférica funciona praticamente como a tampa de uma panela. Ela retém o calor dentro de um espaço definido — no caso do domo atual, é uma área grande e que abrange vários Estados brasileiros.

E como a massa de ar quente impede a chegada de nuvens mais densas, outro efeito dela é ampliar a incidência de raios solares. Isso, num cenário de primavera e verão (quando há mais radiação solar), deixa tudo mais quente e seco.

Hirota destaca que esse tipo de configuração de massas de ar costuma acontecer naturalmente no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil durante o período de inverno – "Só que não há um aumento da temperatura, porque há menos radiação solar nesse período", lembra ela.

O domo de calor perde força quando há alguma mudança nessa configuração meteorológica, que consegue romper aquela alta pressão atmosférica. Com isso, a bolha de ar quente consegue se dissipar — e há um alívio na temperatura.

O geógrafo Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca que a atual onda de calor foi influenciada e amplificada por fatores como as mudanças climáticas e o El Niño forte, que contribui pois dificulta a entrada da temporada de chuvas na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiros.

"E isso se combina com o desmatamento, queimadas, o uso e a ocupação inadequada do solo, para criar as condições ideais para períodos secos e com ondas de calor, pois favorece que a estiagem e as altas temperaturas prevaleçam, ao inibir as chuvas e diminuir a cobertura de nuvens", observa ele.

Segundo as projeções mencionadas por Aquino, "teremos mais áreas de alta pressão, que geram menos chuvas e mais ondas de calor", e o regime de chuvas no país pode passar por uma alteração importante: a redução do corredor que liga a Amazônia ao Sudeste e leva umidade para essa região, especialmente entre os meses de primavera e verão.

Os especialistas observam uma mudança gradual desse eixo, em que as chuvas se deslocam mais para a Região Sul — que atualmente já é castigada por temporais e inundações que fogem dos padrões históricos.

Via “O que é o 'domo de calor', fenômeno por trás dos recordes de temperatura no Brasil”, por Andre Biernath, na BBC Brasil, 16/11/2023.