Migração devido ao clima já é mapeada nos EUA
Os fluxos migratórios influenciam profundamente a sociedade e a economia, e os EUA já começaram a mapear em que ponto as pessoas desistem de insistir numa região frequentemente atingida.
Cidades e regiões já começaram a ser abandonadas devido ao aumento da frequência de desastres climáticos, é o que apontam os estudos sobre a realidade imobiliária dos EUA – que não é idêntica à nossa, mas tem pontos fundamentais em comum.
No caso dos vizinhos do norte, a maior parte dessas regiões fica nas regiões costeiras, em especial na Florida, Texas e na parte central da Costa Leste - onde se concentram os efeitos das tempestades que acompanham a temporada de furacões no Atlântico Norte.
“Área de abandono climático” é uma região onde o risco de inundações cresceu o suficiente para começar a forçar as pessoas a partirem.
Mas o mesmo padrão se repete em outras regiões com situações mais próximas às que observamos também no Brasil: lugares onde chuvas intensas, ciclones tropicais e inundações costeiras e fluviais estão se tornando problemas maiores e mais frequentes.
“As pessoas percebem quais as partes da sua região que devem ser evitadas e quais são mais seguras, e agem de acordo com isso”, afirma Jeremy Porter, demógrafo e líder da investigação sobre implicações climáticas realizada pela First Street Foundation. “Observando os mercados imobiliários, notamos que as pessoas vem sendo muito mais atentas na escolha sobre onde viver.”
A First Street Foundation é um grupo de pesquisa sem fins lucrativos que recentemente desenvolveu ferramentas – das quais precisamos logo ter similares por aqui! – para ajudar os residentes a avaliar os riscos de inundações, incêndios e condições climáticas extremas que as propriedades individuais enfrentam, conforme publicação desta semana na Nature, com participação de pesquisadores de diversas universidades e do Fundo de Defesa Ambiental, também sem fins lucrativos.
As migrações também incluem as mudanças dentro de uma mesma área urbana, abandonando a região mais afetada.
O estudo faz uma importante distinção: quando as pessoas pensam nas migrações causadas pelas mudanças climáticas, imaginam alguém se mudando para longe de casa e para outra parte do país. Mas isso é apenas uma pequena fatia das tendências globais de migração, e a maioria das pessoas se muda dentro da mesma cidade ou área metropolitana, ressalta Porter.
A partir daí, o estudo cruzou dados de risco de inundação com as informações do censo, para mapear a relação entre inundações e mudanças populacionais, controlando outros fatores – como a disponibilidade de emprego – que também podem afetar a decisão de alguém quanto a se mudar.
Foi assim que a pesquisa encontrou pontos de inflexão para cada região: um limite em que as inundações se tornam tão graves que as pessoas começam a deixar a área. Esse ponto de inflexão varia de lugar para lugar, e mostra que as pessoas começaram a se afastar quando cerca de 5% a 15% das propriedades em uma área são colocadas em risco de inundação.
Curiosamente, o mesmo estudo aponta também um fenômeno contrário (e minoritário): regiões que estão em crescimento populacional apesar do seu risco ampliado de inundações.
Veremos o que acontecerá com essas. "A exposição da população nos próximos 30 anos é uma preocupação séria", disse Evelyn Shu, analista sênior de pesquisa da First Street Foundation e principal autora do artigo. "Por décadas, optamos por construir e desenvolver em áreas que acreditávamos não ter risco significativo, mas devido aos impactos das mudanças climáticas, essas áreas estão começando a se parecer muito rapidamente com áreas que evitamos no passado."