Extremos climáticos de 2023 no Brasil ainda não chegaram ao pico, diz Cemaden

Cenário só piora, e os governos deveriam estar preparados, pois foram avisados há meses, segundo coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Descrição da imagem: Embarcação encalhada no Rio Negro, demonstrando o quanto baixou o nível da água devido à seca que se aprofunda na Amazônia — Foto: MICHAEL DANTAS/AFP/16-10-2023

Em meio ondas simultâneas de extremos de calor, seca e chuvas nas regiões, os especialistas reunidos em evento sobre os impactos alertam que essas condições ainda não chegaram no seu ápice deste ano, e se agravarão à medida que o El Niño avança para o pico de sua atividade, em dezembro.

O ano de 2023 caminha para ser o recordista de extremos climáticos simultâneos no país, com uma onda de calor no Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste; seca no Norte e fortes chuvas no Sul. Também deverá ser o mais quente dos últimos 125 mil anos, segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM).

A gravidade da situação também se mede no número de ondas de calor. Nobre mostrou um estudo publicado em 2021 na revista “Science”, que estimava que uma pessoa nascida em 1960 passaria por pelo menos sete ondas ao longo da vida. No Brasil de 2023, as ondas já somam oito este ano.

Os especialistas preveem que a seca na Amazônia se aprofundará, além de haver mais calor no Centro-Oeste e Sudeste e fortes chuvas no Sul. Preocupa a situação do Nordeste, já que a estiagem severa é dada como certa na região no início de 2024.

O alerta foi dado nesta quinta-feira no evento “Crise climática e desastres como consequência do El Niño 2023-2024: impactos observados e esperados no Brasil”, que reuniu na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio, alguns dos maiores climatologistas do país.

— A situação está perigosa. A chuva já deveria ter começado na Amazônia Central, mas veio muito fraca. Teremos o prolongamento e acentuação da seca no Norte. Também no Nordeste, já há sinais de que a chuva vai atrasar, e haverá seca. Estamos avisando há meses, o cenário só piora. Os governos já deveriam estar preparados — salientou José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Marengo lembrou que não é só a intensificação do El Niño que distorce o clima. O Atlântico Norte permanece muito quente, em pleno inverno do Hemisfério Norte, influenciando as condições climáticas na Amazônia e no Nordeste.

Informações extraídas da matéria “Altas temperaturas, chuvas e seca à vista: El Niño vai agravar o clima extremo no Brasil em dezembro”, por Ana Lúcia Azevedo, no Extra/Globo, em 17/11/2023.